Texto do poeta
Estava lendo, me assustei,
um baque no vidro da janela!
Uma pequena mancha.
No chão, um pequenino beija flor.
Uma pontada no coração,
corri para ajudá-lo.
Ele abria o bico tentando se defender,
consegui pegá-lo com cuidado.
Parece que sentiu o meu carinho e consentiu.
Levei para uma pia, abri a torneira, molhei todo seu corpo.
Percebi que uma das asas estava quebrada,
uma lágrima escorreu em meu rosto.
E agora?
Não podia soltá-lo, ia morrer.
Consegui com muita dificuldade e falta de jeito,
imobilizá-la com durex.
Coloquei-o entre vasos com plantas em um ninho improvisado com panos.
Dei-lhe água e uns farelos de pão, bebeu, comeu, e de tão cansado, dormiu.
O sol estava se pondo.
No outro dia, quando acordei,
fui logo vê-lo, estava quietinho,
Agradei-o, sorri, e coloquei mais suprimentos ao seu lado.
Passava horas ao seu lado,
observava principalmente
a asinha.
Acostumávamos, coçava sua cabecinha sem ele reclamar,
andava no pequeno espaço.
E a asinha? Pensava eu.
Após uns dias, de repente! Mexeu as asinhas, fiquei pasmo!
Pois não esboçava dor.
Coloquei ele em minha mão,
tirei com cuidado o durex/gesso, rs.
Soltei-o, ele batia as asas sem parar, como se estivesse testando.
De repente, levantou vôo,
foi até o alto da janela,
parou batendo as asinhas,
olhou para mim, abriu o biquinho e grunhiu como se tivesse agradecendo e dando adeus.
Voou e sumiu, feliz com sua volta a liberdade.
Vivi um momento triste, alegre e belo.
Apenas senti.
Após uns dias, ele voltou para beijar as flores dos vasos de minha mulher.
Ao me ver, parou no ar batendo as asinhas e disse:
"Poeta, a natureza precisa de mim para continuar seu ciclo, mas também precisa de ti, para defendê-la através das suas poesias.
Só temos formas diferentes, mas somos iguais nos nossos objetivos.
A natureza nos ama pois somos interlocutores da liberdade.
Adeus,
te amo poeta!"
Foi cumprir sua missão com muita alegria.
Adeus meu belo amigo pássaro,
te amo!
Pássaro, amante das flores.
Poeta, amante das inspirações.
Pássaro, voa com suas asas.
Poeta, voa com as asas da imaginação.
Ambos amam e pregam a liberdade.
BH, 05/10//20.
Pedro Ramalho poeta.